No alto do Monte que emoldura Viana do Castelo ergue-se o Santuário do Sagrado Coração de Jesus. Visível a quilómetros de distância, como que a dar as boas vindas a quem entra na cidade, o templo coroa a Princesa do Lima. Quem escolhe subir o monte recebe em troca um panorama arrebatador, onde o bucólico e verdejante vale se funde com a modernidade e o urbano da cidade, tudo acompanhado pelo vagar do rio Lima que desagua no Atlântico, onde quase conseguimos ainda ver as Caravelas que um dia partiram para os Descobrimentos – tudo num só local, tudo numa só vista.
O sublime da natureza alia-se ao engenho humano, com o Santuário a glorificar o Sagrado Coração de Jesus e Santa Luzia, advogada da vista e que mereceu o agradecimento do Capitão de Cavalaria Luís de Andrade e Sousa, depois de ter sido acometido de uma grave oftalmia. Na extinta capela de Santa Luzia, Andrade e Sousa pede à Santa que o ajude e, depois de recuperado, agradece-lhe, instituindo em Viana do Castelo a Confraria de Santa Luzia.
Para quem visita a cidade ou para os seus habitantes, subir o monte de Santa Luzia é sinal de uma experiência diferente e que deixará uma doce recordação da cidade. A somar à imponente obra eclesiástica, pode ainda passear pelo recatado jardim das Tílias, fazer um pick-nick no parque das merendas, e ainda subir ao zimbório, onde desfrutará de uma vista 360º.
Depois de executada a monumental e artística coluna que haveria de servir de suporte à estátua, verificou-se que a mesma não conseguiria suportar a sua posição fortemente inclinada para frente. Então, a estátua foi colocada num pedestal em frente à Capela de Santa Luzia, que só seria demolida em 1926. Aproveitando a majestosa coluna, Miguel Ventura Terra, um dos maiores arquitetos do seu tempo, idealizou uma coluna igual para as implantar diante do templo a construir e servir de suporte a dois anjos. Entre essas duas colunas, Ventura Terra riscou o projeto de um magnífico templo, cuja beleza e magnificência é apenas igualável pela paisagem onde este se insere.
As obras começaram em 1904, desenvolvendo-se animadamente até à Proclamação da República. A partir daqui, o processo esmoreceu, resultado do conturbado contexto político e social. A I Guerra Mundial acabou por abrandar ainda mais o processo. Em 1925 o arquiteto Miguel Nogueira, aprendiz de Ventura Terra, assume as rédias da obra, herdando o projeto do seu mestre aquando da sua morte. Apenas um ano depois concluem-se as obras da capela-mor, e o Arcebispo e Senhor de Braga e Primaz das Espanhas têm a honra de a abrir ao público. As obras do exterior do templo concluíram-se no final do ano de 1943, e as do interior em 1959. O resultado é uma imponente mole granítica cinzelada e executada pelos mestres canteiros da região dirigidos por Emídio Pereira Lima.
Arquitetonicamente, o edifício apresenta uma planta centrada em cruz grega, de raiz bizantina. À mesma matriz vai buscar a enorme cúpula que coroa o edifício, bem como as pequenas cúpulas que encabeçam as quatro torres, estas já inspiradas no estilo românico, assim como a decoração que serpenteia pela fachada do edifício. De estilo gótico são as enormes rosáceas, as maiores da Península Ibérica, emoldurando os belos vitrais que inundam com luz e cor o interior da igreja.
Lá dentro, dois anjos, da autoria de Leopoldo de Almeida, oferecem os escudos de Portugal e de Viana do Castelo ao Sagrado Coração de Jesus, uma réplica da estátua de bronze da entrada, esculpida em mármore de Vila Viçosa por Martinho de Brito.
A atenção popular e a devoção dos vianenses é dirigida à imagem do Sagrado Coração de Jesus, provinda do convento dos Crúzios, e à imagem de Santa Luzia, que migrou da capela que antecedeu o templo, tal como a imagem da Senhora da Abadia. Para completar, também Nossa Senhora de Fátima é contemplada no templo, com uma estátua à sua imagem, para todos os crentes que lhe queiram prestar devoção.
Emídio Lima é o escultor responsável pelos imponentes altares em mármore e granito, tanto o altar-mor como os laterais, dedicados a Santa Luzia e à Senhora da Abadia. Também os púlpitos de linhas ondulares, com desenho de Miguel Nogueira, são obra deste escultor. Já as três rosáceas que ornamentam a igreja fizeram todo o seu caminho desde Lisboa, das mãos da oficina Ricardo Leone. Os frescos que rodeiam a abside da capela-mor e a cúpula são da autoria de Manuel Pereira da Silva, natural de Avintes, e representam passagens da via-sacra. Finalmente, o sacrário de prata foi cinzelado pelo mestre ourives Filinto Elísio de Almeida, no Porto.
O Santuário é assim um símbolo não só de união religiosa, com pessoas de vários cantos do país e do mundo a quererem visitá-lo e a prestar a sua homenagem, quer apenas por devoção ou por pagamento de promessas, mas é também uma união singular a nível arquitetónico, com pessoas de vários pontos do país a contribuírem para a sua construção e a elevarem a referência em que se tornou, ao longo dos anos, para habitantes e turistas, para portugueses e estrangeiros, para crentes e não crentes. Ninguém fica indiferente à simbiose perfeita do Santuário no seu monte.